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Por que eu não posso correr pelada?

Alguns especialistas defendem a teoria 'Medo da vagina" [garanto que os machões começaram a rir e pensar internamente "Isso é coisa de veado!"]. Será?


A verdade é que 99% dos homens têm medo da vagina. A grande maioria masculina só consegue lidar com vaginas lisinhas, pequenas, castas, envergonhadas, oprimidas, submissas, rosadas, tímidas e infantilizadas; aquelas que não oferecem risco algum e podem ser facilmente domadas. No entanto, quando encontram com uma vagina "espertinha", cheia de personalidade, exposta de maneira indevida, ficam tensos e agressivos, sentem-se diminuídos, enojados, oprimidos.


BEM VINDO AO TIME: Este é o famoso medo da vagina.


Recentemente, notícias consecutivas anunciaram mulheres correndo peladas na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Mas, o que será que tem ocasionado este fenômeno? É certo? É errado? Epidemia, loucura?


A bióloga, colunista, ativista e redatora da ANDA faz uma reflexão sobre o tema.


Mulheres que correm com sua nudez.

Por Ellen Augusta Valer de Freitas.


No Brasil, tudo o que se refere à nudez feminina vem carregado de uma malícia bruta, tarada, masculinizada. As mulheres remam para o mesmo lado, dando força aos homens.

Os últimos protestos de mulheres correndo solitárias pelas ruas da cidade têm provocado as reações mais óbvias possíveis.

Os profissionais de saúde ouvidos em meios de comunicação foram patéticos ao chamarem as pessoas de doentes e até de imorais.

Apenas corroboram o quanto a mídia pode ser fraca ao propagar uma moralidade baixa, carregada de desinformação.

Se é uma propaganda e se há um carro esperando lá na esquina para pegar a mulher, que mal tem? Quantos protestos nosso coletivo fez e no final do dia peganos um táxi ou carona para levar nossas coisas... que mal tem nisso?


Quando os ciclistas de Porto Alegre se reuniram pelados para protestar, poucos foram os que criticaram nas redes sociais. Hoje, ser ciclista bonitinho está na moda. Mas quando ter bicicleta era coisa de louco, a coisa era bem diferente.


As pessoas se calam quando algo está na moda. Mas por que uma mulher não pode exercer seu direito ao protesto individual, da maneira que bem entender?

As suas razões, neste caso, não importam. O que incomoda as pessoas é o fato de seus pêlos pubianos aparecerem. Sim, pois seios todos estão acostumados a ver na TV, até mesmo nos protestos feministas. Mas os velados pêlos são notóriamente alvo de medo, um tabu até mesmo das minhas companheiras mulheres. Não é revoltante?

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Deborah de Robertis, en plena 'performance' frente al cuadro 'El origen del mundo', de Courbet.



Então leia esta: este ano um quadro da britânica Leena McCall foi censurado, e não foi o primeiro caso, por causa de seus pêlos à mostra, enquanto que cenas de sexo, violência contra animais e outras imagens do calibre são aceitas e, por que não, elogiadas por pessoas com aquela 'cara de entendido'.


Na causa animal, há muito tempo na Europa os protestos com nudez são usados e muito bem, para chocar e chamar a atenção. A maldade pode estar estampada nos olhos de algum maldoso ou maldosa, mas o geral é mesmo o choque, o objetivo é a agenda midiática desta ação.


Aqui neste país de moralistas, onde o sexo é praticado mas escamoteado, onde há abuso de crianças e de animais, a coisa é diferente. Eu temo pela segurança dessas mulheres que saem sozinhas, neste país de violência descarada. Mulheres debocham de nossas companheiras que querem protestar - não importam suas motivações, querem sair correndo, se mostrar, mostrar o que têm a dizer, com seus corpos, sim, mas algo dizem. Talvez digam que essa sociedade ainda precisa amadurecer e se ligar para a realidade de que nem tudo é sexo, e de que um corpo feminino é realmente poderoso, é um alvo. Um fascinante alvo.

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